quinta-feira, 23 de abril de 2009

O dia em que a Dodo se foi...



Nunca havia planejado conviver com Mr. Jong ou com a Dodo. Eles entraram em minha vida de mansinho, sem alarde...

Um dia, minha filha conversou comigo que seu amigo iria viajar pela América Latina, refazendo o percurso que o "Che" fizera e, assim, não teria quem cuidasse dele. Imaginei que um jovem assim, certamente, seria uma pessoa especial. Por isto, resolvi aceitar o desafio. E, quando menos esperava ele chegou de táxi com seus poucos pertences e muito assustado!
Aceitei cuidar dele, embora nada soubesse dos seus hábitos. Corri para o "santo Google" e obtive as respostas, muitas, porém nas questões mais angustiantes, ele faz "ouvido de mouco" e diz que não encontrou nenhuma resposta. E, assim, caminhamos...

Primeiro descobri que alface era uma coisa proibida , embora para mim seja obrigatório, mesmo que nenhum amigo me convide para tomar um suco do mesmo. Sempre me chamam para tomar um chope, sorvete, etc...
No momento, que nos olhamos, implorou pela sua liberdade e, eu, com o coração mole, concedi. Assim, começou a correr livre... Na primeira vez que sumiu, sofri muito! Procurei-o por toda casa e achei que me abandonara para sempre. Após dois dias, reapareceu com o rostinho enrugado de tanto dormir, não sei onde...

Embora não entendesse seu curto tempo de vida, procurei tornar a sua passagem por este planeta em algo que valesse a pena. Deixava-o fazer o que quisesse e, mesmo assim, não se tornou um tirano. Era sempre dócil e calado.

Seu dono sumiu na estrada e nunca mais veio buscá-lo! Fato que intimamente comemorei.
Já a chegada da Dodozinha, foi completamente diferente. O porteiro ligou e perguntou se o Mr. Jong estava em casa ou se sumira, pois havia alguém na portaria perdido e muito parecido com ele. Corri para o seu quartinho e, ufa! felizmente ele dormia placidamente. Soube que estava perdida e não havia ninguém para cuidar dela. Apesar de temer desentendimentos entre os dois, concordei em recebê-la. Era magrinha e desajeitada! Comecei a dar-lhe uma super alimentação e logo, logo, ela virou uma bolinha. Por temer uma explosão demográfica, autoritariamente, impedi o encontro dos dois, embora no fundo, no fundo, lamentasse. Depois de algum tempo, ele começou a evitar a comida, parou de correr e só dormia. Até que um dia, pela manhã, percebi que ele se fora. A incompreensão e tristeza por sua breve vida, foi amenizada pela juventude e alegria da Dodozinha. Corria pela casa e se deixava acariciar meigamente. Quando ouvia minha voz, corria como se me conhecesse. Como ele, sua liberdade era plena, dentro dos limites do possível...Porém o tempo voa.... e há alguns dias atrás, percebi o mesmo fastio, a mesma dificuldade de andar que o Mr. Jong tivera. Contei nos dedos a passagem dos meses e concluí que sua hora estava acabando, apesar de ainda não compreender seu curto tempo de vida.

Hoje, minha amiga lúcida e terrena, explicou-me o porquê. Disse-me que como a sua espécie é usada para experimentos cientificos, é necessário que tenham uma vida breve! Compreendi um pouco e percebi que apesar do Einstein dizer que "Deus não joga dados", somos todos joguetes do que chamamos Natureza.
Ontem, a Dodo se foi!