sábado, 18 de junho de 2011

Hoje, lembrei do Drummond.......

A história da humanidade é polvilhada de guerras.....
Por isto, hoje, lembrei do poeta....Principalmente do poema "Os pacifistas"

Na Cinelândia, pela tarde,
em bancos vulgares e amigos,
sentam-se homens mal vestidos.
Não mostram pressa de voltar
para casa ou para o trabalho.
Sentam-se em honra de uma vida
que vive dentro de suas vidas
corriqueiras, pardas e tristes,
e lá ficam a ver as pombas
em torno à estátua de Floriano
catando milho distribuído
por um deus amigo das aves,
o deus que no baixar à terra
preferiu o simples disfarce
de empregado administrativo.


Bicam as pombas, esvoaçam
por entre mármores do Teatro,
do Museu e da Biblioteca,
não que lhes interessem óperas,
livros, telas, artes humanas.


Brincam as pombas: pena, cor,
lampejo entre árvores, tranquilo
ser-existir infenso ao trágico
mundo que se foi modelando
entre gritos, gagos regougos,
lágrimas, cóleras, solércias,
à custa do mundo essencial.


Libertados de todo peso,
deixam-se os homens existir
desprevenidos junto às pombas.


Silenciosos e circunspectos,
são talvez os homens melhores
do nosso tempo assim parados.


Não pleiteam bens ou poderes
mais que o bem e o poder de um banco
alteado no chão de pedrinhas.


Não transportam a guerra n’alma,
não vendem ódio, não tocaiam
nem sofismam quem tem razão
entre sem-razões deste instante.


O voo não viajeiro basta-lhes
para alimento das retinas
e, ao mirar as pombas, remiram
uma harmonia que perdemos.

Na Cinelândia, aves e homens
redescobrem a paz, em vida.

Fernando Pessoa (2)



Com o passar do tempo,  algumas lembranças, como se estivessem em um caleidoscópio, começam a se embaralhar formando belissimas cores , sons e formas diversas.   Ao realizar um dos meus singelos sonhos, que era sentar ao lado do Fernando Pessoa, em frente ao bar que  frequentava, recordei da primeira  pessoa que me falou sobre ele. Este querido amigo,  nem sabe mais quem sou. Pois tenho a impressão,  que já nos encontramos em algum lugar e ele não me cumprimentou.  Entretanto, isto não tem nenhuma importância. De repente ele não me via mais "com os olhos do coração". Eu, entretanto, nunca vou  esquecer a forma poetica com que  me falou  do  Fernando,  do  Caieiro e  tantos outros.

A poesia tira o mofo do cotidiano! É como se fosse uma camada de pintura nova com a qual renovamos, sempre, uma parede velha e desbotada. Viva a poesia! Viva a arte.

Abaixo uma pincelada do FP.


"O essencial é saber ver, mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida, isso exige um estudo profundo, aprendizagem de desaprender.
Eu prefiro despir-me do que aprendi, eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desembrulhar-me e ser eu.  

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Parque Lage x Vergara

Fazia muito tempo que não visitava o Parque Laje. E, apesar de frequentemente passar em frente ao seu portão principal, não decidia visitá-lo. Ontem, aproveitando a tarde fria e chuvosa,  decidi passar a tarde por lá. O que foi uma decisão muito proveitosa. Apesar do ar desleixado e quase abandonado, causado pela irresponsabilidade das autoridades que deveriam cuidá-lo como se fosse algo raro e impar, ele continua sendo um lugar maravilhoso e mágico. No seu jardim havia uma instalação do artista plástico Vergara chamada "LIBERDADE". Paradoxalmente, como tudo na vida, as obras de arte eram feitas de grades, portões e objetos que pertenceram ao Complexo Frei Caneca que foi demolido. Por lá passaram presos politicos famosos como Graciliano Ramos, Nise da Silveira e outros.

Tudo aquilo me fez pensar no grande mistério que é a vida.

Aproveito para transcrever algumas palavras do nosso Graciliano:

"Afinal que valíamos nós?
Estávamos ali mortos, em decomposição, e era razoável evitarem o contágio. Bom que se conservassem longe. Ninguém nos poderia oferecer uma dessas mesquinhas lisonjas indispensáveis na vida social; estávamos diante de uma verdade muito nua e muito suja, e qualquer aproximação originaria vergonha e constrangimento. O resto da humanidade se afastava; no marasmo e no assombro, sentiamos que se afastava em excesso. Impossíveis os entendimentos; muros intransponíveis nos separavam."