sábado, 3 de setembro de 2011

O adubo

Isolo-me!
No solo árido
de ilusões,
PLANTO
uma semente e,
com o
PRANTO
adubo a
esperança de um novo
SER.


sábado, 20 de agosto de 2011

A menina perdida

Desfaço nós e
penduricalhos
 
Rio dos simbolos
vãos.

E na ermida
encontro
a menina perdida!

Passando o cerol...

Linhas de cerol
cortam, mutilam,
fazem sangrar....

Linhas de cerol
guiam, seguras,
pipas multicoloridas
que elevam
nossos sonhos
até o espaço sideral....

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO - Vinicius de Morais

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.



Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo

Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.

De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.
Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não
Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

NÃO HÁ O QUE DIZER

NÃO
há o que DIZER

para a morena faceira
de sandália rasteira
sem eira nem beira

NÃO
há o que dizer!

apenas BENZER
o olhar perdido
para a caixa de fitas

NÃO
há o que 
FAZER

apenas
COLHER
os restos de sonhos
no vidro do
LEXOTAN





segunda-feira, 8 de agosto de 2011

MUNDO CÃO


SEM tesão,
SEM razão,
SEM pão.

Será em VÃO?
TEM solução?




domingo, 7 de agosto de 2011

Medo

Tenho medo
de ter medo, mas,
tenho!

Do trânsito
que mutila
a melodia da
POESIA.

Dos carros
que abafam
o canto da cotovia.

Da zoada insensata
que cala,
o apito da longinqua
locomotiva

Da Terra triste
onde as abelhas
não polinizam mais.

Das noites
sem sonhos,

Dos jovens de asas quebradas
pelos
INCESTICIDIOS.
_______________________

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Notas musicais

DOnos do mundo
REsolvem destinos
MIsturam vilanias
FAzem solidões
LAtem para as caravanas que passam
SImulam sentimentos
DOpam consciências.

Safira

domingo, 31 de julho de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Dúvidas x saber

"Há uma diferença muito grande entre saber e acreditar que se sabe.
Saber é ciência.  Acreditar que se sabe é ignorância.
Mas, cuidado! Saber mal não é ciência. Saber mal pode ser muito pior que ignorar.
Na verdade, sabe-se somente quando se sabe pouco, pois com o saber, cresce a dúvida,
Que é preciso idolatrar sempre!"


Periferia

Aqui,
como LÁ,
a mesma nota
SOL.

Jovens periféricos,
Mortos nos teleféricos.....

Safira

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Metamorfoses

Amanheço CIGANA,
Saia de fitas,
Blusa de chita.
Com muita gana,
RESISTO!

Entardeço  AFRICANA,
Talvez muçulmana,
Nunca MUNDANA.
DESISTO!

Anoiteço BAIANA,
mergulho em um mar de rara beleza.
ENLOUQUEÇO.

Safira

Os justos

Os justos

Um homem que cultiva seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sur jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acaricia um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão salvando o mundo.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um novo mundo é possível???

"Ao contrário do que o senso comum prega, não acredito na necessidade de
utilizarmos a máquina governamental para melhorarmos o mundo e proteger
nosso futuro. Antes, pelo contrário, podemos usar estas rachaduras, estes
vãos deixados pelo sistema estabelecido para criar uma Nova Economia, uma
que respeite o ser humano ao invés de oprimi-lo."
Rafael Reinehr é médico especialista em Medicina Interna e Endocrinologia.
Colabora com o Núcleo para a Excelência Humana da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Mantém os blogs Escrever Por Escrever, Simplicíssimo e
seu site pessoal.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nosso Antonio Cândido

"O socialismo é uma doutrina triunfante"

Filosofia e Questões Teóricas

Joana Tavares

Ter, 19 de Julho de 2011 22:27

Aos 93 anos, Antonio Candido explica a sua concepção de socialismo, fala sobre literatura e revela não se interessar por novas obras

Antonio Candido - Foto de Fábio CarvalhoCrítico literário, professor, sociólogo, militante. Um adjetivo sozinho não consegue definir a importância de Antonio Candido para o Brasil. Considerado um dos principais intelectuais do país, ele mantém a postura socialista, a cordialidade, a elegância, o senso de humor, o otimismo. Antes de começar nossa entrevista, ele diz que viveu praticamente todo o conturbado século 20. E participou ativamente dele, escrevendo, debatendo, indo a manifestações, ajudando a dar lucidez, clareza e humanidade a toda uma geração de alunos, militantes sociais, leitores e escritores.

Tão bom de prosa como de escrita, ele fala sobre seu método de análise literária, dos livros de que gosta, da sua infância, do começo da sua militância, da televisão, do MST, da sua crença profunda no socialismo como uma doutrina triunfante. "O que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele", afirma.

Brasil de Fato – Nos seus textos é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?

Antonio Candido – Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico. Posso dizer o que tenho para dizer nas humanidades com a linguagem comum. Já no estudo das ciências humanas eu preconizava isso. Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para pode divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.

Brasil de Fato – O seu método de análise da literatura parte da cultura para a realidade social e volta para a cultura e para o texto. Como o senhor explicaria esse método?

Antonio Candido – Uma coisa que sempre me preocupou muito é que os teóricos da literatura dizem: é preciso fazer isso, mas não fazem. Tenho muita influência marxista – não me considero marxista – mas tenho muita influência marxista na minha formação e também muita influência da chamada escola sociológica francesa, que geralmente era formada por socialistas. Parti do seguinte princípio: quero aproveitar meu conhecimento sociológico para ver como isso poderia contribuir para conhecer o íntimo de uma obra literária. No começo eu era um pouco sectário, politizava um pouco demais minha atividade. Depois entrei em contato com um movimento literário norte-americano, a nova crítica, conhecido como new criticism. E aí foi um ovo de colombo: a obra de arte pode depender do que for, da personalidade do autor, da classe social dele, da situação econômica, do momento histórico, mas quando ela é realizada, ela é ela. Ela tem sua própria individualidade. Então a primeira coisa que é preciso fazer é estudar a própria obra. Isso ficou na minha cabeça. Mas eu também não queria abrir mão, dada a minha formação, do social. Importante então é o seguinte: reconhecer que a obra é autônoma, mas que foi formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor. Não é dizer: a sociedade é assim, portanto a obra é assim. O importante é: quais são os elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética. Me dediquei muito a isso, tenho um livro chamado "Literatura e sociedade" que analisa isso. Fiz um esforço grande para respeitar a realidade estética da obra e sua ligação com a realidade. Há certas obras em que não faz sentido pesquisar o vínculo social porque ela é pura estrutura verbal. Há outras em que o social é tão presente – como "O cortiço" [de Aluísio Azevedo] – que é impossível analisar a obra sem a carga social. Depois de mais maduro minha conclusão foi muito óbvia: o crítico tem que proceder conforme a natureza de cada obra que ele analisa. Há obras que pedem um método psicológico, eu uso; outras pedem estudo do vocabulário, a classe social do autor; uso. Talvez eu seja aquilo que os marxistas xingam muito que é ser eclético. Talvez eu seja um pouco eclético, confesso. Isso me permite tratar de um número muito variado de obras.

Brasil de Fato – Teria um tipo de abordagem estética que seria melhor?

Antonio Candido – Não privilegio. Já privilegiei. Primeiro o social, cheguei a privilegiar mesmo o político. Quando eu era um jovem crítico eu queria que meus artigos demonstrassem que era um socialista escrevendo com posição crítica frente à sociedade. Depois vi que havia poemas, por exemplo, em que não podia fazer isso. Então passei a outra fase em que passei a priorizar a autonomia da obra, os valores estéticos. Depois vi que depende da obra. Mas tenho muito interesse pelo estudo das obras que permitem uma abordagem ao mesmo tempo interna e externa. A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio.

Brasil de Fato – O que é mais importante ler na literatura brasileira?

Antonio Candido – Machado de Assis. Ele é um escritor completo.

Brasil de Fato – É o que senhor mais gosta?

Antonio Candido – Não, mas acho que é o que mais se aproveita.

Brasil de Fato – E de qual o senhor mais gosta?

Antonio Candido – Gosto muito do Eça de Queiroz, muitos estrangeiros. De brasileiros, gosto muito de Graciliano Ramos... Acho que já li "São Bernardo" umas 20 vezes, com mentira e tudo. Leio o Graciliano muito, sempre. Mas Machado de Assis é um autor extraordinário. Comecei a ler com 9 anos livros de adulto. E ninguém sabia quem era Machado de Assis, só o Brasil e, mesmo assim, nem todo mundo. Mas hoje ele está ficando um autor universal. Ele tinha a prova do grande escritor. Quando se escreve um livro, ele é traduzido, e uma crítica fala que a tradução estragou a obra, é porque não era uma grande obra. Machado de Assis, mesmo mal traduzido, continua grande. A prova de um bom escritor é que mesmo mal traduzido ele é grande. Se dizem: "a tradução matou a obra", então a obra era boa, mas não era grande.

Brasil de Fato – Como levar a grande literatura para quem não está habituado com a leitura?

Antonio Candido – É perfeitamente possível, sobretudo Machado de Assis. A Maria Vitória Benevides me contou de uma pesquisa que foi feita na Itália há uns 30 anos. Aqueles magnatas italianos, com uma visão já avançada do capitalismo, decidiram diminuir as horas de trabalho para que os trabalhadores pudessem ter cursos, se dedicar à cultura. Então perguntaram: cursos de que vocês querem? Pensaram que iam pedir cursos técnicos, e eles pediram curso de italiano para poder ler bem os clássicos. "A divina comédia" é um livro com 100 cantos, cada canto com dezenas de estrofes. Na Itália, não sou capaz de repetir direito, mas algo como 200 mil pessoas sabem a primeira parte inteira, 50 mil sabem a segunda, e de 3 a 4 mil pessoas sabem o livro inteiro de cor. Quer dizer, o povo tem direito à literatura e entende a literatura. O doutor Agostinho da Silva, um escritor português anarquista que ficou muito tempo no Brasil, explicava para os operários os diálogos de Platão, e eles adoravam. Tem que saber explicar, usar a linguagem normal.

Brasil de Fato – O senhor acha que o brasileiro gosta de ler?

Antonio Candido – Não sei. O Brasil pra mim é um mistério. Tem editora para toda parte, tem livro para todo lado. Vi uma reportagem que dizia que a cidade de Buenos Aires tem mais livrarias que em todo o Brasil. Lê-se muito pouco no Brasil. Parece que o povo que lê mais é o finlandês, que lê 30 volumes por ano. Agora dizem que o livro vai acabar, né?

Brasil de Fato – O senhor acha que vai?

Antonio Candido – Não sei. Eu não tenho nem computador... as pessoas me perguntam: qual é o seu... como chama?

Brasil de Fato – E-mail?

Antonio Candido – Isso! Olha, eu parei no telefone e máquina de escrever. Não entendo dessas coisas... Estou afastado de todas as novidades há cerca de 30 anos. Não me interesso por literatura atual. Sou um velho caturra. Já doei quase toda minha biblioteca, 14 ou 15 mil volumes. O que tem aqui é livro para visita ver. Mas pretendo dar tudo. Não vendo livro, eu dou. Sempre fiz escola pública, inclusive universidade pública, então é o que posso dar para devolver um pouco. Tenho impressão que a literatura brasileira está fraca, mas isso todo velho acha. Meus antigos alunos que me visitam muito dizem que está fraca no Brasil, na Inglaterra, na França, na Rússia, nos Estados Unidos... que a literatura está por baixo hoje em dia. Mas eu não me interesso por novidades.

Brasil de Fato – E o que o senhor lê hoje em dia?

Antonio Candido – Eu releio. História, um pouco de política... mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.

Brasil de Fato – O senhor é socialista?

Antonio Candido – Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: "o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana". O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na "Ideologia Alemã": as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Brasil de Fato – Por quê?

Antonio Candido – Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

Brasil de Fato – O socialismo como luta dos trabalhadores?

Antonio Candido – O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.

Brasil de Fato – Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?

Antonio Candido – Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola... não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialismo, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser... o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.

Brasil de Fato – O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?

Antonio Candido – O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo. Em Cuba eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, da Articulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para o que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo. No tempo que meu irmão Roberto – que era católico de esquerda – começou a trabalhar, eu era moço, ele era tido como comunista, por dizer que no Brasil tinha miséria. Dizer isso era ser comunista, não estou falando em metáforas. Hoje, a Federação das Indústrias, Paulo Maluf, eles dizem que a miséria é intolerável. O socialismo está andando... não com o nome, mas aquilo que o socialismo quer, a igualdade, está andando. Não aquela igualdade que alguns socialistas e os anarquistas pregavam, igualdade absoluta é impossível. Os homens são muito diferentes, há uma certa justiça em remunerar mais aquele que serve mais à comunidade. Mas a desigualdade tem que ser mínima, não máxima. Sou muito otimista. (pausa). O Brasil é um país pobre, mas há uma certa tendência igualitária no brasileiro – apesar da escravidão - e isso é bom. Tive uma sorte muito grande, fui criado numa cidade pequena, em Minas Gerais, não tinha nem 5 mil habitantes quando eu morava lá. Numa cidade assim, todo mundo é parente. Meu bisavô era proprietário de terras, mas a terra foi sendo dividida entre os filhos... então na minha cidade o barbeiro era meu parente, o chofer de praça era meu parente, até uma prostituta, que foi uma moça deflorada expulsa de casa, era minha prima. Então me acostumei a ser igual a todo mundo. Fui criado com os antigos escravos do meu avô. Quando eu tinha 10 anos de idade, toda pessoa com mais de 40 anos tinha sido escrava. Conheci inclusive uma escrava, tia Vitória, que liderou uma rebelião contra o senhor. Não tenho senso de desigualdade social. Digo sempre, tenho temperamento conservador. Tenho temperamento conservador, atitudes liberais e ideias socialistas. Minha grande sorte foi não ter nascido em família nem importante nem rica, senão ia ser um reacionário. (risos).

Brasil de Fato – A Teresina, que inspirou um livro com seu nome, o senhor conheceu depois?

Antonio Candido – Conheci em Poços de Caldas... essa era uma mulher extraordinária, uma anarquista, maior amiga da minha mãe. Tenho um livrinho sobre ela. Uma mulher formidável. Mas eu me politizei muito tarde, com 23, 24 anos de idade com o Paulo Emílio. Ele dizia: "é melhor ser fascista do que não ter ideologia". Ele que me levou para a militância. Ele dizia com razão: cada geração tem o seu dever. O nosso dever era político.

Brasil de Fato – E o dever da atual geração?

Antonio Candido – Ter saudade. Vocês pegaram um rabo de foguete danado.

Brasil de Fato – No seu livro "Os parceiros do Rio Bonito" o senhor diz que é importante defender a reforma agrária não apenas por motivos econômicos, mas culturalmente. O que o senhor acha disso hoje?

Antonio Candido – Isso é uma coisa muito bonita do MST. No movimento das Ligas Camponesas não havia essa preocupação cultural, era mais econômica. Acho bonito isso que o MST faz: formar em curso superior quem trabalha na enxada. Essa preocupação cultural do MST já é um avanço extraordinário no caminho do socialismo. É preciso cultura. Não é só o livro, é conhecimento, informação, notícia... Minha tese de doutorado em ciências sociais foi sobre o camponês pobre de São Paulo – aquele que precisa arrendar terra, o parceiro. Em 1948, estava fazendo minha pesquisa num bairro rural de Bofete e tinha um informante muito bom, Nhô Samuel Antônio de Camargos. Ele dizia que tinha mais de 90 anos, mas não sabia quantos. Um dia ele me perguntou: "ô seu Antonio, o imperador vai indo bem? Não é mais aquele de barba branca, né?". Eu disse pra ele: "não, agora é outro chamado Eurico Gaspar Dutra". Quer dizer, ele está fora da cultura, para ele o imperador existe. Ele não sabe ler, não sabe escrever, não lê jornal. A humanização moderna depende da comunicação em grande parte. No dia em que o trabalhador tem o rádio em casa ele é outra pessoa. O problema é que os meios modernos de comunicação são muito venenosos. A televisão é uma praga. Eu adoro, hein? Moro sozinho, sozinho, sou viúvo e assisto televisão. Mas é uma praga. A coisa mais pérfida do capitalismo – por causa da necessidade cumulativa irreversível – é a sociedade de consumo. Marx não conheceu, não sei como ele veria. A televisão faz um inculcamento sublimar de dez em dez minutos, na cabeça de todos – na sua, na minha, do Sílvio Santos, do dono do Bradesco, do pobre diabo que não tem o que comer – imagens de whisky, automóvel, casa, roupa, viagem à Europa – cria necessidades. E claro que não dá condições para concretizá-las. A sociedade de consumo está criando necessidades artificiais e está levando os que não têm ao desespero, à droga, miséria... Esse desejo da coisa nova é uma coisa poderosa. O capitalismo descobriu isso graças ao Henry Ford. O Ford tirou o automóvel da granfinagem e fez carro popular, vendia a 500 dólares. Estados Unidos inteiro começou a comprar automóvel, e o Ford foi ficando milionário. De repente o carro não vendia mais. Ele ficou desesperado, chamou os economistas, que estudaram e disseram: "mas é claro que não vende, o carro não acaba". O produto industrial não pode ser eterno. O produto artesanal é feito para durar, mas o industrial não, ele tem que ser feito para acabar, essa é coisa mais diabólica do capitalismo. E o Ford entendeu isso, passou a mudar o modelo do carro a cada ano. Em um regime que fosse mais socialista seria preciso encontrar uma maneira de não falir as empresas, mas tornar os produtos duráveis, acabar com essa loucura da renovação. Hoje um automóvel é feito para acabar, a moda é feita para mudar. Essa ideia tem como miragem o lucro infinito. Enquanto a verdadeira miragem não é a do lucro infinito, é do bem-estar infinito.

Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1918, concluiu seus estudos secundários em Poços de Caldas (MG) e ingressou na recém-fundada Universidade de São Paulo em 1937, no curso de Ciências Sociais. Com os amigos Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e outros fundou a revista Clima. Com Gilda de Mello e Souza, colega de revista e do intenso ambiente de debates sobre a cultura, foi casado por 60 anos. Defendeu sua tese de doutorado, publicada depois como o livro "Os Parceiros do Rio Bonito", em 1954. De 1958 a 1960 foi professor de literatura na Faculdade de Filosofia de Assis. Em 1961, passou a dar aulas de teoria literária e literatura comparada na USP, onde foi professor e orientou trabalhos até se aposentar, em 1992. Na década de 1940, militou no Partido Socialista Brasileiro, fazendo oposição à ditadura Vargas. Em 1980, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Colaborou nos jornais Folha da Manhã e Diário de São Paulo, resenhando obras literárias. É autor de inúmeros livros, atualmente reeditados pela editora Ouro sobre Azul, coordenada por sua filha, Ana Luisa Escorel

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Teatro x vida

Durante a época da ditadura militar, as famílias que não tinham condição de manter os filhos tinham a possibilidade de entregá-los para a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM), para serem cuidados pelo Estado. E dos dois aos dezesseis anos de idade, essa foi a realidade de Asdrúbal Serrano e seus três irmãos.


Asdrúbal relata sua experiência dentro da instituição: “lá era oficializada a questão da servícia, da ordem, da disciplina e os militares cuidavam dessa instituição. Então tínhamos todo um aparelho de repressão com tortura, com condicionamento, com disciplina.”

Segundo ele, os internos eram obrigados a produzir seu próprio alimento, e isso desviava o interesse pela educação. Porém, a sua salvação se deu através de uma professora de violão que o chamava para aulas particulares e justificava que durante as aulas, ele estava trabalhando.

Encerrado o período de internação, aos dezesseis anos, Asdrúbal e os irmãos foram devolvidos à sua mãe. Mas ele relata que não foi fácil: “eu me retrai, me enclausurei dentro de mim mesmo. O meu irmão foi conhecer essa maravilha chamada liberdade. Os caminhos que o levaram para essa liberdade foram de trocar tiros com a polícia.”

A descoberta do teatro aconteceu numa escola na Vila Matilde, através de um professor: “para me convencer, o que ele disse: ‘lá é uma escola de magistério, só tem meninas’. E eu com dezessete para dezoito anos não tinha transado com mulher ainda.”

Em sua primeira aula conheceu Bertolt Brecht e dali pra frente não parou mais com o teatro. Hoje tem 36 peças publicadas e já foi convidado por Eduardo Suplicy para realizar leituras dramáticas na Cracolândia. O projeto ainda não deu certo, mas Asdrúbal está trabalhando em paralelo, tentando combater vício do crack na sua causa: “e é o trabalho que eu tenho feito [...] nós temos que pegar a criançada, os adolescentes e mostrar a eles a importância de se sentirem pertencentes a sua comunidade.”

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Sobre a nossa sociedade....

"Há um contexto de silenciamento onde a força DITATORIAL sugere a mudez da sociedade civil"

terça-feira, 19 de julho de 2011

Jean Gabin

"A gente esquece tanta noite de tristeza, mas jamais uma manhã de TERNURA"

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sociedade organizada x sociedade desorganizada

"- Não há que desesperar da sorte do bem. A verdade não se impacienta, porque é eterna. Uns plantam a semente da couve para o prato de amanhã, outros a semente do carvalho para o abrigo no futuro. Aqueles cavam para si mesmos. Estes lavram para o seu país, para a felicidade dos seus descendentes, para o benefício humano" Ruy Barbosa

Sobre a nossa sociedade....

"Sabemos de tudo e não somos bobos, somos apenas omissos, submissos, cinicos e cada vez mais moralmente insensíveis". João  Ubaldo.

sábado, 16 de julho de 2011

Um pensamento

"É cômodo acreditar no que nos consola. Mais difícil é perseguir a verdade. Quanta verdade você é capaz de suportar?"

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Dois de julho x Salvador




2 de Julho contemporâneo

O grito de independência continua! Bahia de agora carrega a dor e esse grito enrustido na alma do povo e de sua gente simples: crianças, jovens e velhos em busca de abrigo e que ainda pisoteiam as mesmas pedras de então, manchadas pelo sangue derramado de sua mátria, pátria amada. Embora as autoridades busquem minimizar esta velha ferida que se agrava a cada dia
.
No “Era no 2 de Julho” de nosso poeta maior, a pugna imensa travara-se no cerros da Bahia, e, o anjo pálido da morte continua cerzindo a sua vasta mortalha, não só em Pirajá, mas em cada esquina, em cada favela, encostas e becos onde a morte beija bocas famintas de pão, educação e amor. Porém a esperança não abandona a ânsia por uma sociedade mais justa e mais livre dos grilhões e ditados do sistema sem misericórdia.
Salve o 2 de julho e o por vir!


Artista Curadora
Dra. Graça Ramos
Professora titular da EBA UFBA
Texto da Exposição: 2 de Julho Contemporâneo

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Dalai Lama

As abelhas também são animais sociais. Não há polícia, não há um estado, no entanto trabalham em conjunto. Uma abelha não pode ser individualista. Mas, diferentemente dos outros animais sociais, o ser humano tem a capacidade de se votar ao altruísmo ilimitado. Temos a semente da compaixão dentro de nós. Todos nós.

Arnaldo Antunes

"A coisa mais moderna nesta vida é ENVELHECER"

domingo, 26 de junho de 2011

Um poeta que transformou a dor da tortura em religiosidade!

Nossa geração teve pouco tempo
começou pelo fim
mas foi bela a nossa procura
ah! moça, como foi bela a nossa procura
mesmo com tanta ilusão perdida
quebrada,
mesmo com tanto caco de sonho
onde até hoje
a gente se corta.
Alex Polari

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Intolerância!

Vamos combater a intolerância, seja ela qual for. Lembremos como o nome de Deus foi usado, por BUSH  para invadir o Iraque e assassinar milhares de civis. Segundo ele "Deus" o autorizou a fazer a invasão. Se isto foi verdade, ele ouvia vozes, neste caso teria alguma pertubação mental. No caso de Deus ter autorizado esta invasão, algo de muito errado está embutido nesta noção de bondade e justiça. Matar inocentes????
OAB e AJUFE lembram  que Estado é laico. Para o presidente da OAB é "absolutamente estranho que um magistrado possa tomar decisões  sob inspiração divina  ou qualquer outra inspiração religiosa. Se a justiça assim decidisse, nós cairíamos numa insegurança jurídica, pois dependeríamos da subjetividade da convicção religiosa de cada magistrado"
Lembremos de todos os holocaustos. É assim que começam!

sábado, 18 de junho de 2011

Hoje, lembrei do Drummond.......

A história da humanidade é polvilhada de guerras.....
Por isto, hoje, lembrei do poeta....Principalmente do poema "Os pacifistas"

Na Cinelândia, pela tarde,
em bancos vulgares e amigos,
sentam-se homens mal vestidos.
Não mostram pressa de voltar
para casa ou para o trabalho.
Sentam-se em honra de uma vida
que vive dentro de suas vidas
corriqueiras, pardas e tristes,
e lá ficam a ver as pombas
em torno à estátua de Floriano
catando milho distribuído
por um deus amigo das aves,
o deus que no baixar à terra
preferiu o simples disfarce
de empregado administrativo.


Bicam as pombas, esvoaçam
por entre mármores do Teatro,
do Museu e da Biblioteca,
não que lhes interessem óperas,
livros, telas, artes humanas.


Brincam as pombas: pena, cor,
lampejo entre árvores, tranquilo
ser-existir infenso ao trágico
mundo que se foi modelando
entre gritos, gagos regougos,
lágrimas, cóleras, solércias,
à custa do mundo essencial.


Libertados de todo peso,
deixam-se os homens existir
desprevenidos junto às pombas.


Silenciosos e circunspectos,
são talvez os homens melhores
do nosso tempo assim parados.


Não pleiteam bens ou poderes
mais que o bem e o poder de um banco
alteado no chão de pedrinhas.


Não transportam a guerra n’alma,
não vendem ódio, não tocaiam
nem sofismam quem tem razão
entre sem-razões deste instante.


O voo não viajeiro basta-lhes
para alimento das retinas
e, ao mirar as pombas, remiram
uma harmonia que perdemos.

Na Cinelândia, aves e homens
redescobrem a paz, em vida.

Fernando Pessoa (2)



Com o passar do tempo,  algumas lembranças, como se estivessem em um caleidoscópio, começam a se embaralhar formando belissimas cores , sons e formas diversas.   Ao realizar um dos meus singelos sonhos, que era sentar ao lado do Fernando Pessoa, em frente ao bar que  frequentava, recordei da primeira  pessoa que me falou sobre ele. Este querido amigo,  nem sabe mais quem sou. Pois tenho a impressão,  que já nos encontramos em algum lugar e ele não me cumprimentou.  Entretanto, isto não tem nenhuma importância. De repente ele não me via mais "com os olhos do coração". Eu, entretanto, nunca vou  esquecer a forma poetica com que  me falou  do  Fernando,  do  Caieiro e  tantos outros.

A poesia tira o mofo do cotidiano! É como se fosse uma camada de pintura nova com a qual renovamos, sempre, uma parede velha e desbotada. Viva a poesia! Viva a arte.

Abaixo uma pincelada do FP.


"O essencial é saber ver, mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida, isso exige um estudo profundo, aprendizagem de desaprender.
Eu prefiro despir-me do que aprendi, eu procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desembrulhar-me e ser eu.  

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Parque Lage x Vergara

Fazia muito tempo que não visitava o Parque Laje. E, apesar de frequentemente passar em frente ao seu portão principal, não decidia visitá-lo. Ontem, aproveitando a tarde fria e chuvosa,  decidi passar a tarde por lá. O que foi uma decisão muito proveitosa. Apesar do ar desleixado e quase abandonado, causado pela irresponsabilidade das autoridades que deveriam cuidá-lo como se fosse algo raro e impar, ele continua sendo um lugar maravilhoso e mágico. No seu jardim havia uma instalação do artista plástico Vergara chamada "LIBERDADE". Paradoxalmente, como tudo na vida, as obras de arte eram feitas de grades, portões e objetos que pertenceram ao Complexo Frei Caneca que foi demolido. Por lá passaram presos politicos famosos como Graciliano Ramos, Nise da Silveira e outros.

Tudo aquilo me fez pensar no grande mistério que é a vida.

Aproveito para transcrever algumas palavras do nosso Graciliano:

"Afinal que valíamos nós?
Estávamos ali mortos, em decomposição, e era razoável evitarem o contágio. Bom que se conservassem longe. Ninguém nos poderia oferecer uma dessas mesquinhas lisonjas indispensáveis na vida social; estávamos diante de uma verdade muito nua e muito suja, e qualquer aproximação originaria vergonha e constrangimento. O resto da humanidade se afastava; no marasmo e no assombro, sentiamos que se afastava em excesso. Impossíveis os entendimentos; muros intransponíveis nos separavam."

domingo, 22 de maio de 2011

O risco do bordado. Quem risca?!

Percebo que, quando falamos sobre a morte, uma sensação de mal-estar invade o ambiente. Alguns, acham que estamos tristes, outros não sei.

Por isto, volto, citando um pensamento de um grande poeta português:

"...Quando se está consciente da MORTE, distingue-se o essencial do acessório. A consciência da morte muda o modo como utilizamos o tempo. Muda a forma como vivemos..." Gonçalo M. Tavares. Por isto, Mementomori.....

Neste recomeço, quero dedicar esta página a quatro pessoas muito queridas que, segundo o Boldrin, "partiram antes do combinado"

Axê Robertinha (27 anos), Dany (37 anos), Neusinha (58 anos) e Alexandre (40 anos). Valeu a pena te-los conhecido.

Vou tentar ter uma conversa com a Bruna Carpelli que, pensa que me conhece, mais do que ninguém. E, não conhece! Aliás o que conhecemos de nós, hein Bruna?!!!

Quero te contar da minha grande alegria, ontem, que foi ir ao supermercado e não utilizar NENHUMA sacola plástica. Isto me fez sentir muito bem. Estufei o peito de orgulho!

Sabe, Bruna, um dia destes, ri muito com uma conhecida minha. Sabe o que ela me disse? "que falo muito sobre pobres..." Pois é, querida, pensei em retrucar prometendo a ela, a partir de agora, só falar da Paris Hilton, o Bush, etc.....Entretanto, o que ia adiantar?

Tenho mais duas amigas virtuais. Uma de Teresina! Ela também tem um "alter-ego", como nós. E a outra, que é bastante misteriosa, é da Guiana Francesa!

Terminei de ler um livro muito interessante e que te recomendo. É do Autran Dourado e chama-se o "Risco do Bordado".

Vou terminar a nossa conversa de hoje com um pensamento dele, citado na página 170, terceiro parágrafo.

""Mas as coisas não se acomodam ao desejo da gente, o mundo é muito desigual nos seus caminhos, o risco não é a gente que traça".

Espero não demorar tanto a te escrever. E, aqui, podemos falar o que quisermos, pois já que ninguém visita o nosso blog, somos livres. Aqui e no "PROVOCAÇÕES" do Abujamra.