terça-feira, 5 de janeiro de 2010

De promessas e sonhos


Um pintor nos prometeu um quadro.
Agora, em New England, sei que morreu. Senti, como outras vezes, a tristeza de compreender que somos como um sonho.

Pensei no homem e no quadro perdidos.
(Só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
Pensei num lugar prefixado que a tela não ocupará.

Pensei depois: se estivesse aí, seria com o tempo uma coisa a mais, uma das vaidades ou hábitos da casa; agora é ilimitada, incessante, capaz de qualquer forma e qualquer cor e a ninguém vinculada.
Existe de algum modo. Viverá e crescerá como uma música e estará comigo até o fim.
Obrigado, Jorge Larco.
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há algo imortal.)

Tradução de Carlos Nejar e Alfredo Jacques
para o poema "The Unending Gift",
de Jorge Luís Borges, do livro "Elogio da Sombra".