Durante a época da ditadura militar, as famílias que não tinham condição de manter os filhos tinham a possibilidade de entregá-los para a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM), para serem cuidados pelo Estado. E dos dois aos dezesseis anos de idade, essa foi a realidade de Asdrúbal Serrano e seus três irmãos.
Asdrúbal relata sua experiência dentro da instituição: “lá era oficializada a questão da servícia, da ordem, da disciplina e os militares cuidavam dessa instituição. Então tínhamos todo um aparelho de repressão com tortura, com condicionamento, com disciplina.”
Segundo ele, os internos eram obrigados a produzir seu próprio alimento, e isso desviava o interesse pela educação. Porém, a sua salvação se deu através de uma professora de violão que o chamava para aulas particulares e justificava que durante as aulas, ele estava trabalhando.
Encerrado o período de internação, aos dezesseis anos, Asdrúbal e os irmãos foram devolvidos à sua mãe. Mas ele relata que não foi fácil: “eu me retrai, me enclausurei dentro de mim mesmo. O meu irmão foi conhecer essa maravilha chamada liberdade. Os caminhos que o levaram para essa liberdade foram de trocar tiros com a polícia.”
A descoberta do teatro aconteceu numa escola na Vila Matilde, através de um professor: “para me convencer, o que ele disse: ‘lá é uma escola de magistério, só tem meninas’. E eu com dezessete para dezoito anos não tinha transado com mulher ainda.”
Em sua primeira aula conheceu Bertolt Brecht e dali pra frente não parou mais com o teatro. Hoje tem 36 peças publicadas e já foi convidado por Eduardo Suplicy para realizar leituras dramáticas na Cracolândia. O projeto ainda não deu certo, mas Asdrúbal está trabalhando em paralelo, tentando combater vício do crack na sua causa: “e é o trabalho que eu tenho feito [...] nós temos que pegar a criançada, os adolescentes e mostrar a eles a importância de se sentirem pertencentes a sua comunidade.”
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